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“Brasil conta com quase 600 mil médicos, com destaque para o crescimento da presença feminina na profissão”
A Associação Médica Brasileira (AMB) e a Universidade de São Paulo (USP) lançaram, nesta quarta (30) a Demografia Médica no Brasil 2025. Esta é a 7a edição do levantamento, que faz um raio X completo da medicina no Brasil.
O censo mostra que existem pouco mais de 597 mil médicos em atividade no Brasil. Em 2023, eram 562 mil. E, no final de 2025, deverão ser 635 mil.
O ritmo de crescimento da categoria, aliás, preocupa os especialistas. Em 5 anos, mais de 116 mil novos médicos entraram no mercado de trabalho.
“Pode ser positivo ter mais médicos, mas precisamos mensurar também a qualidade desses profissionais. Estamos preocupadíssimos com os egressos das faculdades hoje”, destaca César Eduardo Fernandes, presidente da AMB.
A entidade defende a realização da prova de avaliação dos formandos e dos residentes. Neste sentido, um exemplo do que pode acontecer é a “OAB dos médicos”, atualmente em discussão no Senado Federal.
Mais mulheres na medicina
Uma das novidades é que, pela primeira vez na história, as mulheres se tornarão maioria na profissão. Ainda em 2025, ela representarão 50,9% da categoria. E, em 2035, o número deverá chegar a 56%.
A presença feminina nas faculdades de medicina cresceu 8% entre 2010 e 2023, chegando a 61% dos 266 mil estudantes do país. E elas são maioria também entre os residentes (58%).
“É uma mudança histórica, que nos orgulha, mas ao mesmo tempo nos convoca a construir um sistema de saúde mais equânime”, comentou Eloisa Bonfá, primeira diretora mulher da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), no lançamento da Demografia.
A renda declarada por elas, entretanto, é menor do que a dos homens.
Dispara o número de médicos não especialistas
Dos quase 600 mil médicos, 353 mil (ou 59% do total) são especialistas, e 40% apenas se formaram e atuam como generalistas. Esta segunda fatia, destacam os autores da Demografia, está crescendo rapidamente. Em 2022, eram 192 mil. Agora, 244 mil.
Embora as vagas de residência não acompanhem o crescimento da graduação, as ofertas de cursos de pós-graduação, inclusive na modalidade do ensino à distância (EAD), aumentaram.
E isso não é um bom sinal, avaliam os especialistas. “A pós-graduação cresceu de maneira totalmente desregulada, com grande variação de carga horária, tempo de duração, mimetizando nomes de reais especialidades”, apontou Mario Scheffer, da FMUSP, coordenador da Demografia.
“Ela pode ser um caminho para a educação médica, mas jamais substituir a residência e a especialização”, destacou.
No lançamento da demografia, os presentes destacaram a importância de valorizar e ampliar a residência médica. “Deveríamos ter vagas de residentes para todos os formados, distribuídas em território nacional, até porque o local onde o médico faz a residência é onde ele tende a se fixar depois da formação”, afirmou o Ministro da Saúde Alexandre Padilha, que participou virtualmente do evento.
Distribuição de médicos para a população
Hoje, a média nacional é de 2,97 médicos por 100 mil habitantes, ainda abaixo da média dos países membros da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) de 3 profissionais, mas ainda este ano o país deverá atingir esse patamar.
Num ranking de 47 países, o Brasil tem a 33ª maior densidade de oferta de médicos por habitante, bem abaixo de países como Portugal, com 5,6, e da própria vizinha Argentina, com 3,9 médicos para a mesma fatia da população.
E há, ainda, muita desigualdade nacional. Na Região Norte, a taxa é de 1,7 para cada 100 mil pessoas, enquanto no Sudeste é de 3,77. Quando o assunto é o acesso a especialistas, as disparidades são ainda maiores, aponta o censo.
Número de escolas saltou de 252 para 448 em 10 anos
Foram abertas, em média, 2,5 mil novas vagas na graduação por ano. A abertura de novas faculdades cresceu para atender às demandas do Projeto Mais Médicos, mas preocupa a qualidade do ensino.
Mais de 90% da abertura de vagas ocorreu em escolas privadas, e ainda há 184 processos para abertura de novos cursos no MEC. A privatização da oferta é outro ponto de atenção. “É claro que não se pode generalizar, mas as escolas privadas, de acordo com todos os indicadores, tem uma capacidade inferior às escolas públicas de formar bons médicos”, aponta Scheffer.
Entre tais indicadores, citados no estudo, estão o maior percentual de professores sem doutorado, o dobro de alunos por docente, menos professores em dedicação exclusiva e pior desempenho nas avaliações como o Enade.
Renda mensal é de R$36 mil reais
Segundo estudo que avaliou a renda declarada no IRPF, os médicos recebem, em média R$36 mil, a grande maioria deles sem vínculo empregatício formal.
Houve um discreto aumento em relação a 2023, mas a tendência é de queda no decorrer dos anos. Para se ter ideia, em 2014 a renda mensal era de R$40,8 mil.
“Mas é uma média alta, ainda que às custas de múltiplos empregos e jornadas de trabalho exaustivas”, pontuou Scheffer.
A Associação Médica Brasileira (AMB) e a Universidade de São Paulo (USP) lançaram, nesta quarta (30), a Demografia Médica no Brasil 2025. Esta é a 7a edição do levantamento, que faz um raio X completo da medicina no Brasil.
O censo mostra que existem pouco mais de 597 mil médicos em atividade no Brasil. Em 2023, eram 562 mil. E, no final de 2025, deverão ser 635 mil.
O ritmo de crescimento da categoria, aliás, preocupa os especialistas. Em 5 anos, mais de 116 mil novos médicos entraram no mercado de trabalho.
“Pode ser positivo ter mais médicos, mas precisamos mensurar também a qualidade desses profissionais. Estamos preocupadíssimos com os egressos das faculdades hoje”, destaca César Eduardo Fernandes, presidente da AMB.
A entidade defende a realização da prova de avaliação dos formandos e dos residentes. Neste sentido, um exemplo do que pode acontecer é a “OAB dos médicos”, atualmente em discussão no Senado Federal.
Mais mulheres na medicina
Uma das novidades é que, pela primeira vez na história, as mulheres se tornarão maioria na profissão. Ainda em 2025, elas representarão 50,9% da categoria. E, em 2035, o número deverá chegar a 56%.
A presença feminina nas faculdades de medicina cresceu 8% entre 2010 e 2023, chegando a 61% dos 266 mil estudantes do país. E elas são maioria também entre os residentes (58%).
“É uma mudança histórica, que nos orgulha, mas ao mesmo tempo nos convoca a construir um sistema de saúde mais equânime”, comentou Eloisa Bonfá, primeira diretora mulher da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), no lançamento da Demografia.
A renda declarada por elas, entretanto, é menor do que a dos homens.
Dispara o número de médicos não especialistas
Dos quase 600 mil médicos, 353 mil (ou 59% do total) são especialistas, e 40% apenas se formaram e atuam como generalistas. Esta segunda fatia, destacam os autores da Demografia, está crescendo rapidamente. Em 2022, eram 192 mil. Agora, 244 mil.
Embora as vagas de residência não acompanhem o crescimento da graduação, as ofertas de cursos de pós-graduação, inclusive na modalidade do ensino à distância (EAD), aumentaram.
E isso não é um bom sinal, avaliam os especialistas. “A pós-graduação cresceu de maneira totalmente desregulada, com grande variação de carga horária, tempo de duração, mimetizando nomes de reais especialidades”, apontou Mario Scheffer, da FMUSP, coordenador da Demografia.
“Ela pode ser um caminho para a educação médica, mas jamais substituir a residência e a especialização”, destacou.
No lançamento da demografia, os presentes destacaram a importância de valorizar e ampliar a residência médica. “Deveríamos ter vagas de residentes para todos os formados, distribuídas em território nacional, até porque o local onde o médico faz a residência é onde ele tende a se fixar depois da formação”, afirmou o Ministro da Saúde Alexandre Padilha, que participou virtualmente do evento.
Distribuição de médicos para a população
Hoje, a média nacional é de 2,97 médicos por 100 mil habitantes, ainda abaixo da média dos países membros da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) de 3 profissionais, mas ainda este ano o país deverá atingir esse patamar.
Num ranking de 47 países, o Brasil tem a 33ª maior densidade de oferta de médicos por habitante, bem abaixo de países como Portugal, com 5,6, e da própria vizinha Argentina, com 3,9 médicos para a mesma fatia da população.
E há, ainda, muita desigualdade nacional. Na Região Norte, a taxa é de 1,7 para cada 100 mil pessoas, enquanto no Sudeste é de 3,77. Quando o assunto é o acesso a especialistas, as disparidades são ainda maiores, aponta o censo.
Número de escolas saltou de 252 para 448 em 10 anos
Foram abertas, em média, 2,5 mil novas vagas na graduação por ano. A abertura de novas faculdades cresceu para atender às demandas do Projeto Mais Médicos, mas preocupa a qualidade do ensino.
Mais de 90% da abertura de vagas ocorreu em escolas privadas, e ainda há 184 processos para abertura de novos cursos no MEC. A privatização da oferta é outro ponto de atenção. “É claro que não se pode generalizar, mas as escolas privadas, de acordo com todos os indicadores, têm uma capacidade inferior às escolas públicas de formar bons médicos”, aponta Scheffer.
Entre tais indicadores, citados no estudo, estão o maior percentual de professores sem doutorado, o dobro de alunos por docente, menos professores em dedicação exclusiva e pior desempenho nas avaliações como o Enade.
Renda mensal é de R$36 mil reais
Segundo estudo que avaliou a renda declarada no IRPF, os médicos recebem, em média R$36 mil, a grande maioria deles sem vínculo empregatício formal.
Houve um discreto aumento em relação a 2023, mas a tendência é de queda no decorrer dos anos. Para se ter ideia, em 2014 a renda mensal era de R$40,8 mil.
“Mas é uma média alta, ainda que às custas de múltiplos empregos e jornadas de trabalho exaustivas”, pontuou Scheffer.
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A Associação Médica Brasileira (AMB) e a Universidade de São Paulo (USP) divulgaram, no dia 30 de agosto de 2023, a 7ª edição da Demografia Médica no Brasil, que fornece uma análise abrangente do cenário médico no país. O censo revela que o Brasil conta atualmente com mais de 597 mil médicos ativos, um aumento em relação aos 562 mil registrados em 2023. A previsão é que até o final de 2025, esse número chegue a 635 mil. No entanto, esse rápido crescimento da categoria gera preocupações entre especialistas, que enfatizam a importância da qualidade da formação dos novos médicos. César Eduardo Fernandes, presidente da AMB, expressou a necessidade de uma avaliação rigorosa para formandos e residentes, sugerindo a introdução de uma prova semelhante à da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) para médicos, que está sendo discutida no Senado Federal.
Outro dado significativo é o aumento da participação feminina na medicina. Pela primeira vez, as mulheres devem representar a maioria na profissão, com 50,9% em 2025 e previsão de 56% até 2035. O número de mulheres nas faculdades de medicina cresceu 8% entre 2010 e 2023, com elas representando 61% dos 266 mil estudantes de medicina no Brasil, além de 58% entre os residentes. Eloisa Bonfá, primeira diretora mulher da Faculdade de Medicina da USP, destacou a importância dessa mudança para a construção de um sistema de saúde mais equânime, embora a renda declarada por mulheres médicas ainda seja inferior à dos homens.
O censo também aponta um aumento significativo no número de médicos não especialistas, que hoje somam 244 mil, um crescimento notável em relação aos 192 mil registrados em 2022. Enquanto as vagas de residência médica não têm acompanhado o aumento das graduações, houve um crescimento desregulado dos cursos de pós-graduação, especialmente na modalidade de ensino à distância (EAD). Especialistas alertam que, embora a pós-graduação possa contribuir para a educação médica, ela não deve substituir a formação em residência.
A distribuição de médicos no Brasil ainda apresenta desigualdades. A média nacional é de 2,97 médicos por 100 mil habitantes, ligeiramente abaixo da média da OCDE de 3 por 100 mil. O Brasil ocupa a 33ª posição em um ranking de 47 países, com taxas muito inferiores a países como Portugal e Argentina. A desigualdade é ainda mais acentuada entre as regiões, com a Região Norte apresentando apenas 1,7 médicos por 100 mil habitantes, em contraste com 3,77 no Sudeste.
Nos últimos dez anos, o número de escolas de medicina aumentou de 252 para 448, com a abertura de novas vagas atendendo à demanda do Projeto Mais Médicos. Entretanto, essa expansão preocupou especialistas quanto à qualidade do ensino, uma vez que mais de 90% das novas vagas foram criadas em instituições privadas, as quais, segundo o estudo, tendem a ter um desempenho inferior em termos de formação de médicos.
Em relação à renda, o estudo revelou que a média mensal dos médicos é de R$36 mil, com a maioria trabalhando sem vínculo empregatício formal. Embora tenha havido um leve aumento em relação a 2023, a tendência é de diminuição nos próximos anos, comparando-se à média de R$40,8 mil registrada em 2014. Essa média elevada, segundo os especialistas, é frequentemente resultado de múltiplos empregos e jornadas exaustivas de trabalho.
Em suma, a Demografia Médica no Brasil 2025 destaca tanto o crescimento do número de médicos e a crescente presença feminina na profissão quanto as preocupações com a qualidade da formação e a distribuição desigual de profissionais pelo país. A necessidade de avaliações rigorosas, a valorização da residência médica e a atenção à qualidade do ensino em instituições privadas são temas centrais que emergem a partir deste levantamento.